terça-feira, outubro 23, 2012


Prezados possíveis e inverossímeis leitores

Todo dia eu penso em retornar a esse blog, mas todo dia tenho uma enorme crise de preguiça.
Às vezes volto, releio alguns posts, rio de mim mesma, fico apavorada com o fato de já ter esquecido de 40% das coisas aqui narradas. Aparecem alguns comentários fofos de gente que, não sei bem como, ainda encontra esse blog nos mecanismos de busca da vida. Tudo isso é incrível, e me deixa bastante animada e inspirada. Mas aí eu deito, e espero passar.

De qualquer forma, por enquanto, o blog está fechado, sem previsão de reabertura. Talvez amanhã, talvez nunca mais.
Mas agradeço imensamente a todos os amigos que apareceram e ainda aparecem por aqui.

Beijos a todos, e muita sem-noçãozice para todo mundo.

Lu Xavier
Um Mundo sem Noção

terça-feira, março 20, 2007

Pois é, até eu estou sentindo minha própria ausência.
E não, não é pelo fato de que eu tenho andado muito ocupada. Nem pelo meu parco acesso à internet, visto que meu atual marido volta e meia dá umas saidinhas e deixa o pc liberado pros ratos fazerem a festa. E tampouco o motivo seria a falta de bizarrices acontecendo em meu cotidiano. Elas se sucedem incessantemente de forma extraordinária. Ainda mais neste balneário povoado pela sem-noçãozice.
Bem, qual a desculpa então que eu vou dar pra vcs?
Talvez uma auto-censura, assumo.
Preocupada com o que alguém pode pensar, ou sentir, caso leia estas entrelinhas mal-pautadas.
Um pequeno acesso de bondade e consideração com os sentimentos alheios, mas, em breve, prometo que vou voltar a ser má. Muito má. E meter o pau na galera sem-noção. Podem deixar.
Beijos a todos

terça-feira, fevereiro 27, 2007

Casual sex

Copiei e colei a coluna da Carla Rodrigues, do Nomínimo (nominimo.com)
Um dilema que, seguramente, faz parte da nova fase da minha vida, nesta terra tão cheia de negões.


Lenha na fogueira do sexo casual

A partir da experiência de publicar o relato da jornalista Yannik D’Elboux, que suscitou amplo debate sobre o comportamento feminino em relação ao sexo, aceitei de bom grado oferta da leitora ReOx, do blog mulherzinha.blig.ig.com.br, auto-definida como “paulistana fascinada pelo comportamento humano”. A proposta dela é instigante: para fazer sexo como os homens, as mulheres precisam mudar todo o comportamento, desde os critérios de conquista até a atitude do dia seguinte. Confiram:

Por que não “damos” certo?

A maior conquista do feminismo foi a liberdade de podermos agir conforme dita a nossa própria vontade. Se a nossa vontade diz que devemos agir como homens, por que não tentar? A verdadeira questão é: será que conseguimos mesmo agir como eles? Será que estamos preparadas para as conseqüências disso?

Quando nos insinuamos a um homem e deixamos claras nossas intenções – sexo casual, por exemplo – corremos o risco de receber um “não” sem que isso queira dizer nada além de “não estou a fim no momento, obrigado”. Ora, quantos “nãos” já dissemos a homens que só queriam sexo quando não estávamos com vontade, ou quando queríamos algo além disso?

A diferença é que os homens, normalmente, já estão preparados para os “nãos” de suas investidas, enquanto nós ainda estamos engatinhando neste quesito. Somos mimadas e estamos acostumadas a dizer não ao invés de escutá-los, mesmo que apenas ocasionalmente.

Você já parou para pensar que, quando um homem escolhe uma parceira para uma noite de sexo sem compromisso, ele pode estar optando por uma mulher pela qual não imagina a menor possibilidade de vir a se apaixonar? O homem tem o dom de olhar objetivamente para os atributos físicos da parceira, e isso pode ser suficiente para preencher suas necessidades naquele momento: sexo. O homem se excita com o apelo visual e isso pode bastar.

Só que nós, as mulheres de atitude, decididas e pós-feministas não temos a mesma objetividade na hora de escolher um parceiro eventual. Somos diferentes, oras. O buraco do nosso tesão fica mais em cima. Não olhamos apenas para o corpo que pode nos proporcionar maior prazer e sim, para o conjunto. O cara tem que ter um bom papo, nos fazer rir, ter um bom nível social, intelectual…

Ué, mas não é só pra transar? Pra que tudo isso?!

Ao escolher um homem interessante (que tenha outros atributos além dos físicos) corremos sim o risco de nos apaixonar e querer prolongar a noite para duas, três, quatro, namoro, noivado, casamento, filhos, ai, que cansaço.

Nossas intenções acabam mudando de acordo com o grau de gostosura de um homem (que inclui todos os atributos citados acima) e então não conseguimos sustentar o papel de mulher fatal por muito tempo. Somos assim. E quando tentamos não ser, quando tentamos agir como os homens, começamos bem, mas depois misturamos as bolas, ficamos inseguras, perdidas, uó.

Se você quer agir como homem, faça isso, mas do começo ao fim:

1) Mantenha em mente um único objetivo: uma noite de sexo e nada mais. Eu disse NADA MAIS;

2) Escolha um parceiro que atenda, preferencialmente, apenas a esta expectativa: uma noite de sexo bom. É importantíssimo que ele não tenha muitos atributos extras. Você deve se perguntar “posso me apaixonar por esse cara?” Se a resposta for negativa, você está diante de um bom candidato;

3) Esteja preparada para receber um “não” sem levar para o lado pessoal (um homem também pode estar disposto a algo mais. Pode pensar “ela só está a fim de me comer e eu quero romance!”, não pode?);

4) Esteja preparada para ter alguém ligando no dia seguinte, mandando flores, cobrando compromisso e saiba dizer “não, obrigada”, educadamente, mas sem dispensar totalmente, principalmente se o sexo tiver sido bom, é claro. Nunca se sabe quando a quarta-feira vai ser chuvosa.

5) “Os dispostos se atraem, os opostos se distraem” (frase de Fernando Anitelli, líder do grupo musical independente O Teatro Mágico). Procure alguém que pareça estar com a mesma intenção e não queria mudar suas intenções no meio do caminho. Entrou pelo sexo, vá de sexo até o final.

6) Fingir paixão para ganhar sexo também vale. Só não vale acreditar na própria mentira depois;

7) Também vale beber um pouquinho a mais antes do encontro. Assim você tem a possibilidade de acordar e tentar acreditar que tudo não passou de um sonho (ou de um pesadelo!).

Vale ressaltar que, salvo raras exceções, ainda não aprendi a aplicar a teoria na prática.

Sobre esta prática libertadora, eu já tinha ouvido falar que no Egito antigo, as mulheres, e não os homens, faziam xixi de pé. A imagem abaixo me foi passada pelo Henrique e pela Íris, aqui de Salvador. Eles me mandaram este e-mail, explicando a proposta de iniciativa tão educativa e iluminadora.

"Sobre a proposta: podemos dizer que somos uma vagina e um pênis numa
tentativa de rejeitar as contruções culturais impostas através do gênero.
Pensamos que o ato (e a maneira) de fazer xixi impostos aos diferentes
gêneros é reflexo de uma cultura misógina, assim como as consequências que
isso acarreta. O texto e as figuras foram retirados e traduzidos do zine
Menarquia: http://danae.tv/menarquia. Estamos fazendo ele num formato menor
pra podermos distribuir na rua, assim que terminarmos de editá-lo, te
enviamos o arquivo e ai se você quiser, distribui também. Qualquer dúvida
sobre o xixi em pé pode nos escrever, tentaremos ajudar e qualquer discussão
sobre o assunto topamos também. :)
Muito foda saber isso do Egito, achei um blog em que a menina fala
que o Heródoto escreve sobre isso num livro(ela não diz qual livro), estamos
a procura desse livro!!! Você descobriu isso aonde?
Tirando isso, estamos editando um livro de bolso que são dois capítulos de
um livro da Naomi Wolf chamado O Mito da Beleza, aonde ela discute a questão
do sexo (pornografia, sado-masoquismo, e sua relação com as imagens da
beleza). Deve sair em um mês, mais ou menos; e fazendo algumas traduções:
tamo traduzindo o site the-clitoris.com e alguns artigos e coisas
interessantes do girlswholikeporno.com, assim que terminarmos as traduções
vamos postar lá no confabulando (www.corpuscrisis.org/confabulando).

abraços!
henrique e íris
dois-corpos@hotmail.com "

Libertação feminina

Como eu ando sem assunto, resolvi proporcionar a todas (e não a todos) a chave para a verdadeira libertação feminina. Vi isso colado nas paredes de Salvador, e decidi reproduzí-lo para o mundo. Cliquem na imagem para ver com mais definição.



Eu juro que tô me esforçando. Eventuais iniciativas êxitosas deverão ser divulgados aqui no blog.

quarta-feira, janeiro 10, 2007

Promessa de Ano Novo

Uma das minhas promessas de ano-novo é manter este blog sempre atualizado. A outra foi tentar, só tentar, deixar de ser mané.

- Lulu, não dá, a gente não aprende! Que merda!
Não dei um pio. Cansada, o pé escorregando dentro da sandália por causa da água da chuva, deixei Anne reclamar e tentei abstrair. Quase 5h da manhã, metade da minha calça branca havia adquirido uma outra coloração, que variava entre o marrom argila e o preto asfalto, sem ter dado nenhum beijo na boca, e ? pior! ? sem nenhum efeito do álcool na mente. Nenhum artifício para tornar aquela madrugada do primeiro dia de 2007 um pouco mais engraçadinha. Suspirei.

Se isso for um indício de como será o resto do ano, tira Saddam daí de cima que eu tô me candidatando.

Estava tudo ok, passagem do metrô na mão, nada de muvuca, pontualidade, blusinha azul comprada na C&A pra passar o ano novo com tranqüilidade e nenhum ônibus queimado pelo caminho, lá fomos nós, com escala em Copacabana, para Ipanema, onde eu e minhas coleguinhas iríamos participar do super show super legal do super grupo super multi-étnico Black Eyed Peas. Guerreiras como sempre.

A escala em Copa seria na casa de Vilter, amigo de Anne (meu que não é!), onde confraternizaríamos um pouco com seus familiares e confrades, comeríamos uns cocrete e começaríamos a preparar a nossa deliciosa mistura alquímica, daquela famosa bebida feita de coca com aquela outra famosa bebida dos piratas, cujo nome é baseado naquela famosa ilha comunista caribenha. Chegamos no prédio e o elevador não funcionou. Mau presságio. Mas não demos importância. Subimos e fomos recepcionadas com todo o carinho e afeto.Vilter nos avisou que só ?marcaria um dez? com a parentada, e logo estaria liberado para a farra. Dois pocinhos de ingenuidade, eu e Anne acreditamos.

Família reunida, cervejinhas, salgadinhos, musiquinhas, conversinhas, o tempo passou. Eu e Anne num cantinho, meio deslocadas, meio sem graça, meio sem assunto. Minha bolsa (e o rum, ainda intacto) estavam seguramente guardados no quartinho de empregada, na área de serviço. 22h00. ?Bora, Anne??, cutuquei. Vilter, lá dentro, jogava vídeo-game com o afilhado de 7 anos. 22h30. Anne perguntou por Vilter. ?Ele já vem?, responderam. De acordo com a semiótica das cores, a minha blusa azul da C&A com decote canoa super in pregava tranqüilidade. 22h45. Vilter surge na sala, com uma cara séria e enigmática. Anne se levanta e comunica a todos que estávamos de partida. Logo ouvimos um pranto infantil dorido. O afilhado veio correndo lá de dentro e se atirou aos pés de Vilter, o padrinho malvado, chorando, pedindo para que ficasse. Imediatamente, ouvimos um côro: ?Vilter, você vai sair????, e toda a família nos olhou, furiosa. Senti o climão em um crescendo vertiginoso.

Eu e Anne tentamos ir nos despedindo, distribuindo beijinhos fast-food pelos presentes, enquanto Vilter tentaria desembolar o pepino. Mas ? pasmem! ? Vilter continuava em silêncio, enquanto era cravejado de perguntas cobratórias sobre sua atitude herege de passar o reveillón longe da família. O tempo passava e os The Black Eyed Peas nos esperavam. Puxei Anne rumo à cozinha, para sairmos, à francesa. Mas perceberam, e fomos seguidas pelos familiares irados através do diminuto corredor. De repente, ficou todo mundo embolado, a passagem obstruída, pessoas gritando, crianças chorando, e eu também, enquanto tentava explicar que não iríamos pegar nenhum ônibus inflamável, e, like usual, Anne rindo.

Mas o climão já estava instaurado. A cozinha havia sido invadida por todos os familiares, que nos olhavam, furiosos. Comecei a sentir uma pontada na têmpora. Olhei pra Anne, cuja risada insistente podia ser interpretada como sinal de um AVC eminente. Tentei ser prática: ?Vilter, se vc não quiser, não precisa ir com a gente, não tem o menor problema?, falei, entredentes, enfatizando o ?menor? e fingindo ternura. Vilter não respondeu, enquanto tentava arrastar a perna na qual o menino ainda estava agarrado. Todo mundo falava ao mesmo tempo. Anne fez um sinal estratégico para mim com a sombrancelha esquerda, e eu entendi: do local de onde estávamos, enquanto eu distraía os presentes com algum truque malabarístico, ela daria dois saltos mortais até a porta, abriria a fechadura com sua espada de neón cor de rosa, me puxaria pelas tranças e, assim, nos jogaríamos para fora do apartamento rumo à liberdade.

Mas ela sabia que eu não sairia de lá sem o rum. Nunca.

Com foco e paixão, utilizando minha mira raio-laser, localizei a garrafa de rum, oculta em alguns sacos plásticos, em cima da pia.Vilter saiu da inércia e começou a tentar se explicar. Me questionei interiormente sobre como a garrafa foi parar em cima da pia e estiquei o braço para pegá-la. Triunfante, achei que ninguém estava prestando atenção. Ledo engano. Neste exato momento, uma mão de aço interrompe meu movimento friamente calculado, e toma a garrafa de mim. Era a mãe de Vilter. Diálogo:

- O que é isso aqui???
- ...
- Rum?????
- ...
- Ah, não!!!
- ...
- Vocês não vão sair daqui com essa garrafa de rum pra beber na rua não!!!
- ...


Pronto. Além de destruidoras da união familiar, cachaceiras. Perfeito.

Eu queimava por dentro. Agora entendi o que Wynona Rider passou em Salém. A chama do constrangimento é pior do que o fogo da Santa Inquisição.


23h45. Olho pro céu e só vejo nuvens. A chuva não ia parar nunca mais na vida toda. Anne, alguns passos na minha frente corria, segurando a garrafa de rum, com um copinho de plástico na mão, xingando Deus. Eu, mais atrás, já desistindo de andar rápido, com um litro de Coca-cola na mão, todo sacudido. Começamos a perceber que trilhar a pé o caminho que liga Copacabana a Ipanema não havia sido boa idéia. Não sei porque não perguntamos a ninguém, a nenhum local, qual era a exata distância. Simplesmente, dentro de nossos cérebros insanos, achamos que dava para ir a pé numa boa. E fomos. E nos fudemos. Depois de toda a balbúrdia, Vilter ficou com pena do afilhado e acabou não indo ao show com a gente. Bom menino. E nossa única companhia naquela noite chuvosa de 31 de dezembro era o querido amigo pirata.

- Anne, vamos pegar um táxi? (implorando)
- Não!! (veemente)
- Porra, Anne, deixa de ser zura!
- Eu não sou zura, eu sou dura!


Poesia pura. Enquanto tentávamos conciliar o ato de beber com o de correr deu meia-noite, os fogos pipocaram, eu e Anne nos abraçamos rapidamente e continuamos na corrida contra o tempo. Disseram que o show começaria pontualmente 00h02 e, novamente, acreditamos. 15 minutos de um fantástico show pirotécnico no céu do reveillón mais famoso do Brasil e eu olhando pro chão, tentando não pisar em poça alguma.

Chegamos em Ipanema por volta de 00h40, e nem sombra do grupo de hiphop multiétnico no palco. Quarenta milhões de pessoas nos recepcionaram, proporcionando um clima super gostoso de bastante amizade e calor humano. Nos instalamos em uma esquina, na calçada, próxima ao palco, em frente à bicicleta de um vendedor de cerveja. Nosso camarote vip. Não sei se, por azar ou sorte, era debaixo de um prédio de janelões enormes onde, no primeiro andar, havia uma festa louca, provavelmente do neto do Chateaubriand. Contrataram a bateria da Grande Rio para animar os convidados, A vantagem é que podíamos alternar entre samba e hiphop, e foi super legal ser atropelada por mulatas, passistas, bumbos, tambores e agogôs que escolheram justamente o meu lado para passar.

A chuva proporcionou a formação no solo de uma laminha toda especial, típica de Ipanema, que parecia farinha láctea preta. Dali do nosso camarote pudemos ter o prazer de presenciar vários tombos de playboys e gringos bêbados. Em especial, um casal, loirinho, todo de branquinho. Caíram um por cima do outro, foi ótimo. Quem chafurda unido permanece unido. Muitas pessoas tropeçavam também na nossa bicicleta, pois teimavam em passar onde não deviam. Como, por exemplo, um playboy em coma alcólico sendo carregado pelos amigos também bêbados. Eu até tentei avisar, em vão. Todo mundo se embolou em cima da bicicleta, e caíram lá do outro lado, lindo, lindo. O do coma até acordou e, descalço como estava (não sei que moda é essa) pisou em cheio em um caco de vidro. Sangue pra todo o lado, ele urrava de dor, e logo depois começou a gritar que queria fazer xixi. A namorada, solícita, abaixou as calças dele e até segurou o pintinho, olha que amor. Depois ele vomitou. Falei com Anne: ?Vamos ficar por aqui mesmo, pra ver! Vai que ele faz cocô?? Super show.

Agora, o amor. Recebi uma ótima cantada de um menino. Cabelo descolorido, camisa do flamengo e, estourando, uns 15 anos. Primeira abordagem: ?Pô, gata. Nunca te vi, mas sempre te amei?. Segunda abordagem: ?Deixa eu provar do mel dos teus lábios?? Super gostoso. Di, irmão de Vilter, que havia aderido à insubordinação familiar, passou um tempinho conosco no show, e depois sumiu, voltou naquele momento, já no grau, com a camisa do avesso. Ele disse que o menino também comentou algo do tipo ?como é doce o beijo quando vem da sua boca?, mas eu não ouvi. Fiquei lisonjeada.

No final, lembrei que minha bolsa e TODO O MEU DINHEIRO havia ficado na casa de Vilter, na longínqua Copacabana, o que nos obrigou a refazer todo o calvário a pé. Só que, desta vez, muito mais cansadas e com muito mais chuva.


Feliz ano novo pra vocês também.


* Alguns nomes foram substituídos para preservar a sem-noçãozice de algumas pessoas.

Cagâncias

Jurema é uma amiga minha que anda sofrendo de problemas emocionais e intestinais.

Lulu diz
Menina, come manga. Manga é ótimo.

Jurema diz
Será mesmo?

Lulu diz
Garanto. Come no café-da-manhã. O intestino funciona que é uma beleza.

Jurema diz
Vou comer.

Lulu diz
Melhor que Actívia.

Jurema diz
Sabe que quando você escreve que ?cagou quilos?, eu sempre paro uns 5 segundos achando que é literal?

Lulu diz
É só uma metáfora, amiga.

Jurema diz
E sabe que uma amiga minha, quando viu o menino por quem ela era apaixonada entrar no msn, ela ficou tão nervosa que se cagou todinha?

Lulu diz
Jura? Melhor que manga??

Jurema diz
Pois é. Pura emoção. Teve que jogar a calcinha fora.

Lulu diz
Que delícia.

Jurema diz
To pensando aqui. Como eu ando com uns probleminhas de prisão de ventre, acho que vou pedir para Silvan (meu objeto de desejo) entrar no msn também.



Jurema é ótima. :o)

Porto da Barra

O Porto da Barra é uma das praias mais pitorescas do mundo. Talvez só perca para a praia de Icaraí e adjacências, onde a grande bizarrice reside no fato de que não tem mar, e sim um grande lamaçal, onde as pessoas insistem em mergulhar. Aliás, esquisito mesmo é que elas acreditam que o líquido no qual estão chafurdando está liberado para banho.

Mas o Porto é um balneário limpo, águas plácidas e mornas, que servem de manjedoura para um pôr do sol arrebatador. Um cenário de tranqüilidade e paz que se opõe diametralmente à barbárie de sem-noçãozices que assisto toda vez que resolvo pôr meus pés em suas areias escaldantes. Em meio a milhares de turistas, ?periguetes? e ?putões? se misturam às crianças mais barulhentas de Salvador, vira-latas, bolas de futebol desgovernadas, vendedores de queijo coalho e de bronzeadores (suspeitos na mesma medida), mendigos, alguns ótimos negões (em sua maioria, capoeiristas) e várias pessoas que se amarram num sambalelê, como eu. Adoro. Abriu o sol, saio correndo de casa e me jogo lá, toda refestelada na minha canga linda, de motivos indianos. Canga esta que, invariavelmente, está sempre cheia de flocos de areia, jogados por um ou outro pé mais incauto.

Tava eu lá, deitadinha e tostante ao sol, enquanto ouvia minha musiquinha no meu radin de pilha. Alguém me interrompe. Era um negão. Bem, como todos sabem dos meus pobrema nas vista, eu achei que fosse um negão. Eu também não tenho lá muito senso de proporção, e ignorei o fato de que eu estava deitada, com o sol batendo em cheio na cara, e ele de pé, contra a luz. Enfim, negão. Óbvio. Fiquei contente. Óculos escuros, sunga vermelha, brilhando. Não, não eram os óculos ou a sunga vermelha que brilhavam. Era ele. Puro óleo de bronzear. Parecia que tinha se jogado em uma tina de óleo de bronzear. Inclusive, pude divisar meu próprio rosto refletido em seu tórax reluzente e bem torneado. Saradíssimo, me interessei e dei um peteleco no fone de ouvido, desobstruindo meu canal auditivo cujo funcionamento, também de conhecimento geral, é constantemente afetado por uma surdez galopante que teima em se manifestar nas piores horas. Ele disse algo que eu não compreendi, deixou a carteira ao meu lado e, sem esperar resposta, correu para o mar.

Alguns minutos depois, vejo o moçoilo retornando da água, com mais bossa que Helô Pinheiro. Brilhando. Naquele momento, seguindo as orientações de minha companheira de trabalho, dona Anne, tentei compará-lo com algum passante, para constatar a estatura. E percebi que ele, efetivamente, não era um negão. Tampouco nego médio. Sua altura parecia regular com a de um menino de uns 11 anos que jogava frescobol próximo à água, podendo ser enquadrado na categoria neguinho. Orei para Jeová. O pior estava por vir.

Ele perguntou se poderia se sentar ao meu lado. Pelo que me consta, a praia ainda é pública, mas nem tive tempo de responder, pois ele, acachapantemente, se sentou. Na minha canga.

Alguém pode procurar o verbete ?propriedade privada? no Google, por favor?

Começou a falar alguma coisa, que eu não prestei muita atenção, pois estava ocupada tentando puxar o pedaço da MINHA CANGA que estava debaixo de suas nádegas besuntadas. Foi quando ele disse que era cantor de um grupo de pagode. Opa. Perguntei onde ele tocava. Ele disse que ia tocar em uma das praças do Pelourinho, domingo à tarde. E arrematou, dizendo que me colocaria para dentro, tipo convidado VIP de evento patrocinado por celular. Pelo que me consta, a grande maioria dos shows que ocupam os palcos das praças do conjunto arquitetônico do Pelourinho, tombado pelo patrimônio histórico brasileiro, são gratuitos. Especialmente, domingo à tarde.

Percebendo que eu havia pressentido o caô, rapidamente mudou de assunto e de tom, decaindo para uma cantada barata ao começar a elogiar meu cabelo, que, naquele momento, estava completamente afro-étnico-black-power. Eu sei que eu estava lindíssima, mas não era motivo para pedir meu telefone. Eu quis chorar. Inventei um namorado fictício, mas ele não se deu por vencido. E, lambendo os beiços, soltou: ?Imagina esse cabelão todo na minha cama???. P.A.N.I.C. Compreendi que era chegada a hora de me retirar. Horário de pico faz mal pra pele.

Por uma pernada do destino, meses depois, no Porto, eis que reencontro o ruela. Quando o vi ao longe, enfiei a cabeça na areia. Não adiantou. Dessa vez a sunga era amarela. Um pouco gasta, um pouco velha. Já tinha dado de si, de mi, de fá e de sol há muito tempo. Inclusive, e imagino que fosse proposital, o cós da sunga estava tão abaixo da linha do bom tom que deixava entrever alguns pêlos pubianos do mancebo. Puro charme.

Mais bezuntado do que nunca, imaginei que, por conta de eventuais dificuldades financeiras, ele estivesse usando óleo de soja (ou de dendê) no lugar de bronzeador. Um agrádavel odor de peixe frito se esgueirou por minhas narinas. Enquanto eu reclamava comigo mesma por minha falta de habilidade para ser grosseira, ele se sentou. Ao meu lado. Ninjamente, consegui tirar minha canga do caminho. A primeira coisa que ele perguntou foi se eu ainda estava namorando. ?Noiva?. Mudou o rumo. O assunto agora era trabalho. Disse que não estava mais tocando. Perguntei se ele trabalhava. ?De vez em quando, mas, no momento, estou só malhando.? Bom emprego. Decidi não falar mais nada, e comecei a arrumar minhas coisas para levantar acampamento. Foi quando ele viu algum conhecido, levantou, pediu pra eu segurar seus óculos de R$ 4,50 e não voltou mais.

Feliz com a privacidade reconquistada, joguei os óculos na areia, bem longe, e de novo me estirei languidamente em minha canga de motivos indianos. O sol brilhava com força, e pensei na possibilidade de trocar os óculos dele por um picolé de mangaba. Ele voltou. Caralho. Enfiei o picolé de mangaba no ouvido, e recomecei a rearrumar minhas coisas para relevantar o acampamento. Mesmo assim, ele se sentou, e começou a falar de dinheiro, viagens e malhação. E aí veio a pérola.

- Ah, tá sabendo que eu vou fazer um filme?
- É mesmo?
- É. Pornô.
- .

Olhei para o sol, na esperança de que os raios UVA e UVB me cegassem e me ensurdecessem. Não rolou. Dada a notícia, ele ficou um tempo em silêncio, olhando para o nada, com cara de quem havia acabado de chupar um cajá. Refletindo, talvez. Joguei tudo dentro da bolsa, incluindo o palito do picolé e algumas pás de areia, apressadamente. Ele tentou continuar, dizendo que o filme ia ser na Suíça, mas eu cortei. Triunfantemente grossa. Me despedi, dizendo ?olha ali meu noivo!?, e fui sartando. Ele acreditou, mas não desistiu. Disse que ia me ligar, sendo que eu nunca dei meu telefone a ele. Respondi ?Liga mesmo!?, para não contrariar.

Ainda deu tempo de vê-lo indo embora, cumprimentando metade da praia, provavelmente, pessoas que ele não conhecia. Foi uma imagem singular ver, emoldurado pelo amarelo da sunga meio frouxa, aquele exótico cofrinho oleoso, brilhando sob sol de Salvador.

Protético

Uma vez viajamos eu, mamãe e vovó para Caldas Novas (GO). Eu ainda era criança, e, portanto, deveria prestar obediência e fui, arrastada. Excursão de aposentados. Super legal. Eu, com uns 17 anos, me diverti horrores, como vocês podem imaginar. De 15 em 15 minutos tinha um bingo no ônibus, e os prêmios variavam de uma régua de plástico a um calendário de papelão. A viagem foi um saco, o maior atrativo do hotel era uma piscina de águas quentes, e a velharia boiando naquele caldo me fez ter pavor de canja até hoje.

Para chegar em Caldas Novas, pararíamos em Ribeirão Preto (SP ?) e em Araxá (MG). O hotel de Ribeirão era lindo, ótimo quarto, o café-da-manhã dos deuses. Dormimos duas noites lá. Na segunda noite, como sempre acontece em viagens com minha doce avózinha, ela sempre deixa para arrumar as malas em cima da hora. Como iríamos sair do hotel de manhã, o ?em cima da hora? significa ?de madrugada?. Para passar apenas duas noites, ela simplesmente retirou todas as tranqueiras de dentro da mala, e arrumou o quarto como se fosse passar o resto da vida lá. Eu, que já estava com tudo pronto, fui dormir mais cedo. Por volta de umas 3h, 4h da manhã, vovó me acorda, gargalhando. Irritada, ?O que é, vó???. Ela não conseguia falar de tanto rir. Mamãe, sentada na outra cama, parecia rir e chorar ao mesmo tempo. Cocei o olho, tirando as remelas. Olhei bem. E vi tudo preto. Literalmente, um buraco negro. A pressão baixou. Vovó foi comer amendoim e quebrou um dente da dentadura.

(nesta hora, parei de escrever e fiquei lembrando de tudo. O momento foi indescritível)

Não sei se foi sorte ou azar, o dente quebrado era um mais lateral, e não um frenteiro. Imagino que, se fosse o da frente, a tragédia seria total. Um dente quebrado do ladinho dava pra disfarçar, desde que não se sorrisse muito. Mas, sei lá porquê, talvez pela sutileza do buraquinho recém-aberto ali no cantinho, tudo ficou muito mais cômico.

Claro, não pra mim. Naquela época, ainda não fazia parte do meu caráter rir da desgraça. Eu era uma adolescente estresssada. Levantei da cama num pulo. Vovó não parava de rir, apontando para mamãe com o dente quebrado, culpando-a por ter oferecido o amendoim maldito. Mamãe, agora, parecia estar mais rindo do que chorando. O quarto estava uma zona, porque todo mundo desistiu de arrumar as malas. Tive uma idéia. Mandei mamãe procurar na bolsa, e fui telefonar para a recepção.

- Vocês têm super bonder aí?
- Super bonder? É marca de camisinha?

Mamãe não achou nenhuma cola na bagagem. O ônibus ia sair umas 6h, 7h, e, como a gente é pobre, não perderíamos por nada aquele café-da-manhã com cara de buffet de festa de 15 anos. Descemos. Não sei porque, mas, naquela manhã, vovó estava excessivamente simpática. Toda sorrisos. ?Vô, pára de rir!?. Cumprimentou o porteiro, a camareira, o ascensorista. Mamãe dava uns cutucões, para ver se ela se mancava. Encontramos todo mundo da excursão. Vovó, simpatia pura. Eu, um balde de constrangimento. Mamãe foi perguntar ao gerente se ele tinha algum vidrinho de cola dando sopa no hotel. Vovó, nem aí, batendo papo e sorrindo pra Deus e o mundo, só na buraqueira. O gerente, percebendo o nosso sofrimento, se solidarizou, e foi conosco até a mercearia que tinha ao lado do hotel. Fechada. Acordamos o dono da mercearia, que abriu mais cedo. Mas não tinha super bonder. Só sei que o gerente acionou um boy do próprio hotel, que foi de moto até o posto de gasolina mais próximo, comprar a porra da cola. As duas subiram correndo para o quarto, tomar as providências. A excursão atrasou uns 30 minutos, mas, graças a Nossa Senhora que Desata os Nós, deu tudo certo. A dentadura ficou novinha em folha, e vovó nem reclamou dos dez reais pagos na cola, mais a taxa de entrega.

domingo, dezembro 10, 2006

Marcaurélio

Eu sou uma pessoa humilde, sem muitas restrições, sem muitos caprichos. Enquanto tem gente por aí cheia de especificidades que só gostam de orientais de roupa colegial, ou de morenos altos de olhos verdes donos de Pajeros, pra mim o que cair na rede é filé. Até funcionários de projetos sociais na área da reciclagem (vulgarmente conhecidos por ?catadores de latinha?) me interessam. Mas assumo, e não me orgulho: minha única ressalva é a estatura. Baixinho não rola. Pode até rondar por volta dos 1 e 70 e poucos, que eu faço o esforço de abolir a plataforma. Menos que isso, out. Já tentei, e não deu certo.

Hoje recebi um torpedinho: ?Oi, Lu, quanto tempo, tô com saudades, vamos nos encontrar??, que pode ser lido como: ?tô de bobeira e quero te comer?. Era Marcaurélio. Pensei em responder: ?Meu filho, tô em Salvador e aqui os negões são enormes?, mas resisti, pois o torpedo tá pela hora da morte e a bolsa não tá sobrando.

Conheci Marcaurélio num sambinha lá pros idos de 2003, séculos atrás. Eu ainda era uma jovem ingênua de coração puro e sentimentos nobres. Resolvi chamar meu ex namorado pra sair. Just friends, eu juro. Não rolava mais, já que ele ainda insistia em usar sandália com meia e macacão jeans. Justamente por isso virou ex. O macacão era um velho amigo cansado de guerra, apertado na bunda e pescando siri. Namoramos 1 ano e meio, e até hoje não sei como eu pude. O macacão resistiu. Eu não.

Mas naquela tarde de sábado, o pagodão comendo e eu sem muitas opções de acompanhamento, resolvi apelar. Ele topou na hora, e disse que ia chamar os amigos. Apareceu todo perfumado, sem as fatídicas sandálias franciscanas, e sem nenhum amigo. Meninão.

Fomos. Chegamos. O lugar estava cheio, e quando vi algumas possibilidades eventuais de pegação, percebi a grande burrada sem volta que havia cometido.

No canto extremo, diviso as linhas interessantes de um negão bem razoável. Como havia muita gente, só dava pra ver a cabeça. Só a cabeça. De longe, era impossível (ao menos pra mim, que sou absolutamente sem-noção) descobrir qual era a altura dele. Ele me olhava fixa e libidinosamente. Adoro. Fez um sinal para mim. Tentei responder, mas meu ex não saía do meu lado, sambando esquizofrenicamente. Tentei responder em código morse, só na sobrancelha. Não obtive sucesso. O negão sinalizou que ia me esperar lá fora. Tentei dar um zignal no meu ex, naquela hora mais balançante que um boneco de Olinda. Disse que ia comprar água, e zapt! saí correndo. Ao longe, vi meu paquerinha no portão, ansioso. Quando olho para trás, quem vinha em meu encalço? Seu Boneco. Quis chorar. Comprei a água, resignada, e retornei ao meu ponto de partida. Tentei um segundo zig, e disse que ia ao banheiro. Meu ex: ?Ah, eu vou com você!?, animadão. Fiz um xixi desconsolado. Voltei.

O negão em desespero tentava se comunicar através da linguagem dos sinais. Encontrei um amigo e apresentei ao meu ex, para ver se conseguiria distraí-lo. Tive outra idéia brilhante, estratégia de guerra total. Pedi a uma moça papel e caneta, e, relembrando os aprendizados da Arte do Arqueiro Zen, escrevi o nome de uma música de Dona Ivone Lara, e pedi ao meu ex, tão solícito desde o começo da noite, que entregasse o pedido aos músicos, e aproveitasse para sair de perto de mim (preferencialmente, que fosse depois para o inferno). O puto não quis ir. E olha que eu realmente me amarro na música. Puto. Fui comprar outra água. A bexiga cheia me fez novamente ir ao banheiro, seguida de perto pelo meu fiscal, que plantou-se solenemente na porta. Ia perguntar se ele não queria me secar, mas, repentinamente, tive outra idéia.

Bebi o restinho da água até não sobrar gota sequer, peguei o papel com a música anotada, guardado estrategicamente por mim, e escrevi meu telefone. Joguei dentro da garrafa e tampei. Saí do banheiro, serelepe. Agora, era só arrumar um jeito de entregar a garrafa ao negão. Ok.

Meu ex resolve (suspiro sem saco) me chamar pra dançar. Enquanto dançava, por cima do ombro dele, mostrei a garrafa para o negão. Tudo discretamente. Resolvi ir ao banheiro de novo (!!). No meio da muvuca, que havia aumentado enormemente, na escadinha que dava acesso ao toalete, o negão me esperava. Havia muita gente. MUITA. Momentos de pura tensão. Sem hesitar, corri, empurrando as pessoas, com a garrafa na mão, empurrando também o sem noção do meu ex, que me seguia, colado. Acho até que dei-lhe um pisão no pé, a fim de despistá-lo. No instante em que passei pelo negão, na mesma hora em que tentei colocar a garrafa na mão dele, ele tentou colocar na minha mão, NA MESMA MÃO COM A MESMA MÃO, um papel. Um papelzinho. Segundo aquela lei da física, vários corpos e mãos no mesmo lugar, aquela coisa do vuco-vuco, não ia rolar. Foi uma luta. Mais sagaz que ninja samurai, o negão conseguiu pegar a garrafa, AO MESMO TEMPO em que enfiava o papel no bolso de trás da minha calça.

Parêntesis: Como eu me enquadro na categoria periguete-cachorrona-purpurinada, só ando de calça de stretch da Gang, e, como todos bem sabem, a fim de diminuir qualquer volume extra para não comprometer o efeito-espartilho, os bolsos frontais desse tipo de calça SEMPRE são falsos. Ou seja, não havia bolso para ser enfiado o papel. Desespero. Nesta hora, enfiei a unha na mão do negão, que entendeu, e conseguiu enfiar o papel no bolso de trás.

Este episódio todo durou, mais ou menos, uns 7 segundos. Ninguém percebeu nada, e saímos da muvuca. O céu brilhava de estrelas, e neste momento, começaram a tocar a música da Dona Ivone, ?Mas quem disse que te esqueço?. Meu ex dançava no meio da galera, feliz. Respirei aliviada.

Depois da missão cumprida, até esqueci do negão e fomos embora. Meu ex resolveu me levar em casa. Foi ótimo, apesar dele tentar me roubar uma bitoca, sem sucesso. Não me julguem mal. Alguns meses antes ele havia me sacaneado de leve. Además, el amor se acabó. Eu não sou leviana. Passar por aquela tensão toda foi um ato de extrema consideração para com ele. O que os olhos não vêem a testa não sente.

Cheguei em casa e procurei o telefone no bolso da calça. Não achei. Virei e revirei a peça pelo avesso. De repente, caiu uma poerinha. Fui ver. Era um minúsculo pedacinho de papel, todo amassadinho, menor que a ponta da unha do meu dedo mindinho esquerdo. Sem brincadeira. Nele, havia um número impresso. Só. Parecia que ele havia, no meio da multidão, o samba comendo, pegou um cartão de visita no qual o número dele aparecia, e o recortou, com a mão (óbvio) milimetricamente, deixando apenas o seu telefone, e nada mais. Samurai.

No dia seguinte. ?Oi, tudo bom? Era você que estava no samba ontem, à noite...??, e logo fui interrompida, ?Ah! Você é a mulher da garrafa??? Marco Aurélio dava aulas de francês, comme il faut, e praticava pólo aquático. Imaginei logo a bagagem cultural e o tamanho do braço. Marcamos.

No dia seguinte, resolvi ir com meu salto mais alto, de acordo com o alto nível da figura. Ele atrasou uns 20 minutos. Eu já estava sentindo certas dores na coluna que se agravaram consideravelmente quando ele chegou e fui obrigada a me curvar em quase um ângulo de 90 graus para cumprimentá-lo com dois beijinhos.

Ora, mas bem que eu deveria ter dado uma chance ao rapaz, vocês irão dizer. Mesmo sendo quase anão. Afinal, os anões também amam. Foi o que eu fiz. Alma caridosa, esqueceram? Mas ele era mané. Infelizmente. Afinal, os anões também podem ser manés.

Tanto esforço.

Eventualmente, nos reencontramos sem querer em outros sambas gratuitos nos espaços públicos cariocas. Da última vez, ele tentou me roubar uma bitoquinha, mas eu me desvencilhei. Quando vi que ele ia insistir, saí correndo para pegar o ônibus. E, não me perguntem como ? afinal, além de quase anão, ele era meio ninja ? Marcaurélio, estupenda e acrobaticamente, conseguiu pular e dar uma mordiscada certeira bem na minha bochecha direita.

Só pra tornar tudo muito pior, Anne estava por perto e viu tudo.


Doeu pra caralho, e isso não tem graça.*




* No maternal, um moleque filho da puta mordeu minha bochecha, motivo de profundos traumas na fase adulta. De qualquer maneira, valeu por eu já estar imunizada contra tétano e raiva.

sábado, dezembro 09, 2006

Menino, e não é que hoje me deu aquela vontade doida de escrever?

Mas já passou.

De qualquer maneira, para não perder de vez a consideração dos meus inúmeros e maravilhosos leitores, vou postar um textículo que achei por aí. O autor é desconhecido, mas é ótimo, como tudo que não respeita as leis do copyright. Gostaria de tê-lo escrito. O texto está meio datado também, afinal, a criança já vai fazer uns 4 anos (e, em breve, estará saindo em carreira solo), Paulinha terminou com Caê, e Carlinhos Brown... bem, esse não tá fazendo nada de muito diferente não. Espero que, em breve, dona Marisa nos brinde com mais um novo herdeiro.


A primeira festa de aniversário de Mano Wladimir


Mano Wladimir está tenso. No colo da mãe, Marisa Monte, ele ainda não conseguiu entender exatamente o que está se passando. Ao seu lado, Carlinhos Brown conversa com Wally Salomão, que cita uma poesia de Caetano Veloso, que dá um brigadeiro orgânico (sem chocolate e sem leite condensado) para Zeca, que leva um pito da mãe, Paula Lavigne. Mano Wladimir está tenso. É a sua primeira festa de aniversário.

"Criança sã/De uma rã/Guardiã/Eu sou seu fã/Na manhã/Aramaçã/Cunhã". A música infantil escrita por Arnaldo Antunes especialmente para a festa é a trilha sonora da dança das cadeiras. Nada da Turma da Mônica, nada de atores desempregados vestidos de Pikachu. Aqui a coisa é diferente. MM resolveu ser mãe em grande estilo e contratou a Companhia Bufa de Artes e Performances do Absurdo para animar a festa.

Fantasiado de Ed Motta, um ator recita de trás para a frente toda a obra de Eça de Queiroz para algumas crianças. Do outro lado da sala, um grupo de clowns (sim, porque numa festa como essa é proibido ter palhaço) ensaia uma volta à posição fetal enquanto ostenta reproduções dos parangolés de Hélio Oiticica. Num canto, Carlinhos Brown dá uma entrevista para uma repórter da revista Bravo, escalada especialmente para cobrir o evento.
? E aí, Brown? Está feliz com o primeiro aninho do Mano Wladimir?
? É uma coisa da modernidade nagô, no que tange a referência espaço/tempo do ciclo da história humana. O cósmico supremo da realização superlativa, a poética da bioenergia enquanto motor da sublimação ótica. É onde o eu e o tu fundem-se na epiderme inconsciente.
? E o que você deu de presente para ele?
? Pensei na questão do pacifismo, na guerra como catalisador das emoções humanas ao mesmo tempo em que atrai e repudia o ser. A máquina ceifadora que gera vibrações orgânicas, que tangencia e descontinua a unidade solar dos povos.
? Como assim?
? Eu dei um boneco dos Comandos em Ação...

Enquanto as crianças não podem comer o bolo de cenoura, aniz e mel de cana, que traz estampada uma reprodução de "O Abaporu", de Tarsila do Amaral, em sua cobertura, Marisa Monte serve a elas copos de suco de gengibre e balas de cravo da Índia. Até que Paula Lavigne tem a idéia de chamá-las para um karaokê.

Quem começa a brincadeira é Benedito Tutankamon Pedro Baby, cinco anos e filho de um dos roadies de Arnaldo Antunes, que canta "O Avarandado do Amanhecer", de Caetano Veloso. Em seguida é a vez de Zabelê Tucumã Nhenhé Çairã, três anos e filha da empresária de Carlinhos Brown, que canta Ana de Amsterdã, de Chico Buarque. Ao saber que a próxima criança a cantar é a impronunciável Zadhe Akham Mahalubé Sinosukarnopatrionitnafilewathua, filha da copeira de Marisa Monte, Paula Lavigne acha melhor suspender o karaokê.

É hora do "Parabéns pra Você". Os convidados reúnem-se em torno da mesa. E então, Marisa Monte anuncia uma surpresa: quem irá cantar o "Parabéns" é Carlinhos Brown.

Brown, que andava meio sumido depois de sua entrevista para a Bravo, aparece vestido com um cocar feito de canudinhos de plástico, uma camisa de jornal e uma tanga de folhas de bananeira. Atrás dele, 315 percussionistas da Timbalada, um videomaker e quatro poetas marginais. Brown pega um garrafão de água mineral e começa a cantar sua versão para Parabéns a Você:

? Vim para cantar/A tropicália alegria de um povo/Azul, badauê, zumbi/Ela não me quer/Mas sou um tacle regueiro/Viva o divino samba de João/Monarco na rua/Meu bloco chegou.

Arnaldo Antunes se empolga e começa a recitar poesias descontroladamente, Marisa Monte gorjeia e improvisa algumas melodias, a Timbalada toca um samba- reggae, Paula Lavigne cai na farra e Caetano acha tudo "lindo". O videomaker filma tudo e Wally Salomão escreve o release. Os poetas marginais aproveitam a confusão para roubar uns docinhos.

Um executivo de uma grande gravadora, que entrou de penetra, contrata todos os presentes e promete CD, DVD, livro, críticas favoráveis no New York Times, participação de David Byrne e especial de televisão. Para comemorar, Arnaldo
Antunes põe um disco de Lupicínio Rodrigues. O ator vestido de Ed Motta cospe fogo. Marisa Monte lê Mário Quintana em voz alta. Mano Wladimir chora. É a sua primeira festa de aniversário.

Marisa, em momento reflexivo, tentando escolher mais nomes divertidos para seus próximos rebentos

sábado, setembro 02, 2006

ANUNCIO A TODOS QUE, EM BREVE, FAREI A AQUISIÇÃO DO MAIS ULTRA-MEGA- DOUBLE-POWER-EXTRA-FRESHMAKER COMPUTADOR DO MERCADO BAIANO
(movido a azeite de dendê)

Por enquanto, ainda enfrento os percalços de uma vida à margem da periferia da exclusão digital.

Não que isso evite que meu senso crítico continue funcionando com perspicácia.

Como minha tv é daquelas com 6 botões, cada um respectivo a um canal, a gente deixa direto na Globo pq todo mundo fica com preguiça de levantar (já que, obviamente, o modelo do aparelho é anterior à era do zapping via controle remoto). Além disso, não é sempre que o SBT tá pegando (já tentei botar Assolan na antena e nada). Desta feita, tenho observado de maneira profunda como a vênus platinada vem estruturando sua grade de programação. E assim constatei, com horror e asco, que a Globo simplesmente está levando ao ar, AO MESMO TEMPO, três produções teledramatúrgicas com Mariana Ximenes figurando em papéis de destaque.

Eu sei, eu sei, eu sei que depois do silicone, a moça deu um up na carreira. Mas precisa tanto???

(olhando para o céu com ar de súplica) Por que, meu Deus, por quê???

Se joga no kanekalon, Mariana!!! (no botox também)

Sinto que isso faz parte da estratégia de um plano macabro e maquiavélico por parte do clã dos Marinho em eleger Mariana a próxima presidente. Inclusive, tenho informações a respeito que a próxima estratégia de marketing político do PT será colocar um megahair acaju médio em Lula, cuja verba de campanha será quase inteiramente gasta em babylisses de última geração.

sexta-feira, julho 07, 2006

Aprendendo a jogar

Como estou sem tempo, sem dinheiro e sem internet, vou postar aqui a cartinha que mandei para minha querida amiga Anne. Ela não difere muito do que eu escreveria, caso fosse um post, na assepção correta da palavra. Afinal de contas, minha vida é um site aberto. Ah, e please, não reparem nos erros, nem na falta de coerência. Eu sou humana, pô.

Querida Amiguinha Anne

Neste meio tempo, desenvolvi uma nova categoria comportamental. Se, nas últimas semanas, dei mostras de que seria a próxima pós-doutora no assunto "Cagando e Andando: configurações de uma identidade em movimento frente à sem-noçãozice alheia", agora estou tentando fazer um desdobramento teórico-prático no sentido de desenvolver uma nova modalidade: "Cagando e Sambando".

Pois é. Como se não bastasse dar só uma cagadinha, e ir caminhando, agora eu cago e dou uma sambadinha. Não é ótimo assim??? Um dia ainda ganho o nobel.

Bem, vou tentar ser suscinta. rsrs

Quando voltei de Recife liguei pro Everton pra ir me buscar no aeroporto, e ele, todo fofo, ficou esperando 1h pq o vôo atrasou, e nem cobrou hora de espera. Papinho pra lá e pra cá, aquela coisa, e, de repente, ele me faz um pequeno elogio (algo como "vc é linda"). Fiquei encabulada, mas como ele falou meio que do nada, passou, e continuamos conversando na boa. Fiquei encucada. Será que ele estava me dando um molinho? Pq ele é bem bonitinho, além de educadíssimo, simpático, fofo e tem voz bonita e mão grande e é altíssimo. Aliás, quando eu fui pra Recife, e ele foi me levar, eu, nessa simpatia recorrente, dei um abraço nele, e sabe quando é aquele abração, daqueles de corpo todo colado, apertado? Foi assim. Molinho? Será?

Eu conheci o Everton no segundo dia em que encontrei com Beto, aquele negão sem-noção, cantor sem talento, compositor sem contatos, lá no Pelourinho, e tinha decidido que não ia pra casa dele. Ele insistia, óbvio, e eu que não tava a fim de dar pra nenhum negão sem-noção, por mais gato que fosse, resolvi me mandar. Tava tarde, e fui pegar um táxi. O mais legal foi que o Everton fez um caminho diferente, que saiu bem mais barato do que me era cobrado, no percurso Pelourinho-Ondina. Anotei o telefone, afinal, é sempre bom ter o contato de um taxista amigo, honesto e gato.

Quando liguei pra ele me levar pro aeroporto pra eu ir pra Recife, às 5h da manhã, ele prontamente lembrou de mim, foi super simpático, e estava aqui, pontualmente. Fofíssimo. Eu ainda por cima esqueci minha jaqueta branca em casa (jaqueta esta que não foi usada durante nenhum dos dias que passei em solo pernambucano), e ele voltou, tranquilamente, e ainda se ofereceu pra subir pra pegar. Foféssimo. Aí, no carro, comentei que queria conhecer o bendito Beco de Gal, aquele que rola um sambinha durante a semana, que a gente tava tentando ir desde setembro, lembra? Ele disse que ia me levar um dia. Achei que era caô. Ok.

Na volta de Recife, ele refez o convite pra gente ir pro pagode, mas eu não podia pq tinha que estudar. Perguntei se rolava semana que vem. Ele disse que tava tudo bem. Mas achei que ele realmente estivesse apenas querendo ser simpático. Adicionei o taxista em questão no orkut (taxista cibernético), e a primeira msg que ele mandou foi: "E aí, quarta tá de pé?" Fiquei feliz, mas encucada. Das 3 uma: ou ele é fofo e amigo mesmo, e vai me levar na boa, ou ele quer me comer, ou ele vai me levar de graça e vai querer cobrar a volta. Eu sou insegura, vc sabe. Mas confesso que a segunda opção me animava. Liguei e combinamos, 22h30, ok, passo lá pra te pegar. Fofo.

22h, começou a cair um toró. Achei que era um sinal pra não ir, que eu ia me ferrar. Ainda por cima eu estava um pouco bolada por causa de um certo habitante do continente africano, que definitivamente resolveu romper o acordo bilateral Brasil-Angola, e não saía do quarto há dias. Quando saía, falava um "oi" muito mal falado, e olhe lá. Resolvi não ir mais, a lei do retorno poderia se confirmar mais uma vez e eu ficar na pista. Liguei pra Everton, perguntando se ia rolar, afinal, estava chovendo. Ele disse que já estava vindo (fofo!) e ia passar lá na frente da parada pra ver, e ia me ligar. Passou um tempo, eu já estava me preparando pra deitar, crente que ia levar um bolinho básico. Neste exato momento, ouvi um barulho de carro. Quando olho pela janela, vejo aquele táxi belíssimo, branco, lindo, chegando, passando pelo portão e parando aqui em baixo do prédio. Tipo Richard Gere em "Uma Linda Mulher", meu príncipe encantado chegada em seu cavalo branco. Literalmente. Corri e passei rímel, o apetrecho mais importante, e já ia descendo, quando percebi que ainda estava de calcinha. Voltei pra vestir minha calça (branca, pra combinar com o táxi, ideal para uma noite chuvosa). Quando abri a porta pra sair, quem estava lá paradinho me esperando no corredor?? Fofo!!! Bora pro pagodão, o reino encantado dos negões salvadorenhos.

Chegamos lá, ainda chovendo, eu já querendo voltar, na certeza absoluta, depois de tantas furadas, que aquela seria mais uma. Imaginei que talvez ele fosse embora e me largasse sozinha, ou que resolvesse descontar o preço da corrida em cerveja. Lêdo engano. Entramos, de GRAÇA, pq ele conhece o povo todo de lá, me apresentou pro pessoal, e pra Gal, dona da parada, simpaticíssima, que graças a Deus, resolveu pôr uma cobertura em seu recanto bucólico, evitando assim que Lulu umidificasse suas tranças de 100% kanekalón.

Sentamos lá em cima, com váááários negões interessantes chegando (não em mim, devido ao meu acompanhante). Começou o pagodão, e pasme - vários sucessos da nossa adolescência. Só não digo todos pq faltou capricho no pout-pout-rri (sei lá como se escreve essa porra) do Exaltasamba. Aliás, tocaram só umas duas deles. Mas foi lindo o momento Art Popular, bem como a homenagem ao Negritude, tocando, inclusive, "Conto de Fadas". Gozei.

Everton todo solícito, gentil, atencioso. Conversando papos corriqueiros. Até aí, nenhum climinha mais erótico-romântico, só amizade. Só que eu estava feliz, feliz, feliz. Então, eis que surgem umas amigas dele. Uma loira véia, uma morena cheia dos decotes e apliques, e outra barriguda peituda feia e antipática. A do decotão era a mais simpática, foi me dando um abraço generoso logo na entrada, com aquele caloroso afeto soteropolitano que quase me sufocou entre seus seios fartos. A loira passou ao largo, e a peituda me deu aquela olhada de cima abaixo, como vc bem pode imaginar. M.E.D.O. Constrangida, não tentei me enturmar, e fiquei na minha, ouvindo os grandes sucessos de Leandro Lehart. Mas logo a decotadona começou a dançar, e me chamou pra sambar com ela. O pagodão comendo, me empolguei. Descobri que ela era ex-dançarina de axé, então vc pode imaginar as coreografias e rebolados. Adorei (depois te passo os passinhos novos).

Nisso, a barriguda foi se chegando... E senti a pontada fina do recalque quando ela introduziu: "Ah, eu sabia que o Everton ia te trazer aqui, ele me disse segunda quando a gente saiu, porque eu sou namorada dele..." Segurei a peteca, vc sabe, eu não caio do salto fácil. Não esbocei surpresa, o que deu uma quebrada nela logo de cara. Mas a lutadora de sumô não se deu por vencida. "Você sabia que ele tem 3 filhos?" Eu: "Ah, é?? Eu vi a foto do filho dele, que é a criança mais linda do mundo"(realmente, eu vi a foto do pequerrucho no orkut), e dei os parabéns a ela pela prole. Mais sem graça ainda, ela disse que não era mãe "dur mininu naum..." E arrematou que, na verdade, eles não eram nem namorados, só estavam ficando. Eu, meiga, desejei toda a felicidade do mundo para os dois, que eles formavam um belo casal, e que eu esperava que ela desse a ele filhos tão lindos quanto os anteriores. Aí ela finalizou dizendo que, na verdade, eles estavam brigados. Hum, sei. E que eles estavam meio separados. Ah, tá. Mas que, se deus quiser, eles iam voltar. Amém. E fui sambar. Skidum, skidum.

Passou um negão pela nossa mesa. Everton tava meio afastado, conversando com um conhecido. O negão passou e deu aquela piscadela do mal pra mim, aquela que vc bem sabe como é. Ela viu, e veio correndo. "Ah, vc viu, menina?? Que beleza, hein?? Olha, vou pegar o teu telefone, pra vc sair com a gente. Eu gostei de vc. Vc vai ver, vou te arrumar um negão muito gato, e blá blá blá". Insistiu que adorava o Everton, que ele era o cara mais lindo do mundo pra ela, mas que Deus ainda ia me ajudar a encontrar o meu. Ou seja, além de me ameaçar, agora ela estava tentando me cafetinar?? Ótimas estratégias. Já de saco cheio, fiquei na minha, escutando e sorrindo fofamente, pra evitar maiores constrangimentos. Ela falando baixo, pra tentar me coagir. Aí Everton veio, ficou do meu lado, sorriu e começou a dançar comigo. COMIGO. C-O-M-I-G-O.

Rá.

Confesso que até então, eu realmente evitei ficar muito perto dele. O medo paralisa um ser humano, Anne. Fiz uma limpeza dental antes de viajar que me custou 80 reais, não queria perder minha arcada assim, de uma hora pra outra. Além disso, a night tava ótima, eu não queria me estressar. Realmente, não estava rolando nada, xaveco nenhum. Óbvio que mulher sabe quando o macho está em perigo, mas o que eu posso fazer se, além de feia e boba, ela é chata? Eu tava muito na minha, e, independente de fazer ou não alguma coisa, ela já tinha perdido a parada há tempos.

E eu sambando mais que mulata do sargentelli.

Neste exato momento, vi, pelo rabo do cantinho do olho esquerdo que ela tinha tentado segurar a mão dele, e ele tinha sartado de banda. Rá. Aí, neste outro segundo exato momento, a Gal, dona do Beco, e também cantora, pegou o microfone, e, após cantar aquela da Alcione, do negão de tirar o chapéu, apontou pra mim e me fez uma pequena homenagem, já que era a minha primeira vez lá, e que ela ficava muito feliz dos "cariocas" prestigiarem o local. Todos me aplaudiram. Rárá. A inveja tomou conta da barriguda. Perguntou como eu conheci o Everton, e quando eu ia embora ("daqui a dois anos, filhota" rárárá). Aí ela apelou pra violência moral. "Sabe a minha colega ali? (e apontou a loira véia, que sambava pior do que uma salamandra perneta) Ela ficou te olhando torto, pq ela achou que vc estivesse dando em cima do Everton." Fiquei bolada. Até porque não imaginei que aquele olhar torto fosse por causa de uma antipatia, e sim por conta de algum estrabismo congênito. Me irritei. Respondi que ela podia olhar torto à vontade, pq nós éramos só amigos. A mentira enobrece o homem. Aí ela defendeu a loira véia, que ela era legal, que elas eram muito amigas. Por via das dúvidas, saí de perto da loira véia, pra evitar o mau-olhado. Depois dessa noite, se eu voltasse lá na rezadeira de Caruaru, tadinha, ela ia ter um trabalhão pra me limpar das vibrações pestilentas. Então, saí de perto da loira véia e cheguei bem pertinho de Everton, que, carinhosamente, me acolheu em sua companhia. Eu gosto do perigo.

A noite passou, mas a pançuda sempre dava um jeitinho de se entrepor entre nós dois. Esse tipo de competição me cansa, sabe? Além do mais, pra quê lutar, quando a batalha já está no papo? Mas porra, pra que tanta picardia adolescente, entre duas mulheres velhas e maduras? Aliás, ela era BEM mais velha, e não diria madura, propriamente. Graças a Oxalá, a loira véia esqueceu de mim e foi dar em cima de um paraíba cabeçudo lá, afastando da minha pessoa as energias pesadas e negativas. A ex-Sheila Carvalho anotou meu telefone, pra me convidar para uma mariscada (árgulis). Eu disse que ia, claro. Adoro marisco.

Mas confesso que, por um momento, visualizando um futuro de noitadas regadas a axé e pagodões, com negões lindos rodopiando ao meu redor, por um instante, apenas, cogitei a possibilidade de largar Everton pra lá, e investir fundo nestas novas amizades. Mas o olhar torto da loira véia me empurrava na direção contrária. Aí Everton sentou, e puxou uma cadeira pra mim. Naquele instante, pelo cantinho do globo ocular, percebi que tal qual uma dança das cadeiras, a outra ia tentar correr na minha frente pra sentar no meu lugar. Mas eu, sagaz como um mini-calango-ninja corri e sentei. Yes. Everton, carinhoso como sempre, perguntou se eu já queria ir embora, pq ele me levaria. Fofoooo. Eu não queria incomodar, mas ele insistiu. Resolvi fazer intriga: "Everton, mas a sua namorada ali disse que vc ia levá-las em casa. Não quero te atrapalhar". Aí ele, tal qual o príncipe mais encantado do mundo. "Lu, eu vim com vc. Minha prioridade é vc." (suspiro) "Então tá, né? Vamos ficar até o fim?", perguntei prontamente, quase batendo palminhas, e ele, lindo, concordou, solícito. Bora continuar sambando (e cagando). Aí minha arqui-inimiga-rival-barriguda começou um pequeno rebuliço, incomodada com o fato dele ir me levar. Eu, fingindo inocência, caguei. Ela queria ir junto me levar, pra depois todo mundo ir pra casa com ele, afinal de contas, além de querê-lo como namorado, pq não aproveitar pra fazê-lo de burro de carga? Mas Everton foi firme, como só o grande Hércules frente à Hidra de Lerna conseguiria sê-lo. Na hora de ir, fui me despedir dela. Dois beijinhos, ela, visivelmente contrariada, deixou escorrer algumas gotas verdes da baba venenosa do ciúme e do rancor, que aproveitei pra limpar no cabelo de interlace da ex-dançarina de axé. Me despedi de longe da loira véia.

E puta que pariu, ele beija bem pra caralho. Até o final do meu mestrado, eu ainda vou levar porrada na rua.


Ah, e a calça tá toda suja. É só botar na água sanitária que sai?


Beijo grande, amiga.


P.S.: Como eu ainda não tinha certeza se ia rolar a pegação, quando ele foi me deixar em casa, subi correndo, rapidinho, pra pegar um chaveirinho de boi-bumbá que eu comprei em Recife pra vc e dei pra ele, tá? Vc não vai se importar, né, amiga? Foi por uma boa causa.

terça-feira, junho 27, 2006

O Maior e Melhor São João do Mundo

Então, aí que eu estou agorinha na rodoviária de Caruaru, cidade onde acontece o Maior e Melhor São João do Mundo.

Faltam 5 minutos para o meu crédito acabar, e, como toda boa repórter, vou primar pela objetividade.

Em 1 dia e 1 noite eu fui cantada por um mendigo, um velho barrigudo bebum e o garçom da barraca de mugunzá, dormi sozinha num motel, andei de mototáxi (com as bolsas tudo voando no meio da rua pq tem jogo do Brasil e a cidade tá parada), andei de lotada (que seria uma van, mas aqui é uma caminhonete velha, pq não tem ônibus), bati papo com o líder de um trio pé-de-serra (ficamos grandes amigos, e assim que o Trio Quentão gravar um cd, ele vai me mandar), comi uns 15 espetinhos de queijo coalho, fui em uma benzedeira (que disse que o mau-olhado aqui tá brabo), acordei 4h da manhã pra comprar horrores na feira da Sulanca (uma feira de roupas, na qual vc compra blusinhas a módicos 3 reais, calcinhas por 1 real e jaquetas jeans por 10), também dei um pulo na feira de artesanato (comprei um milhão de bonequinhas da sorte, pra tirar o olho-gordo), liguei pra mamãe 5 horas da manhã , comprei bolsa de palha, comprei esculturinhas do mestre vitalino, conversei a esposa do sobrinho do J.Borges, o melhor autor de cordel e gravurista que este sertão já viu, peguei sol, peguei chuva, peguei vento, passei frio, ouvi 326 mil vezes o sucesso do momento, "Lapada na Rachada", dos Aviões do Forró, passei mal de azia com o pé de moleque (que aqui é de castanha e leva mandioca), comprei uma saia indiana feita em Capibaribe, fui no museu do Rei do Baião Luiz Gonzaga e tb comprei uma camiseta escrito "Oxente, Que Stress!".

Só não dancei forró.
E nem comi carne de bode.

Como não gosto de deixar pendências para trás, ano que vem eu volto de novo.

terça-feira, junho 20, 2006

pois é. agora estou voltando pra salvador e acabei não escrevendo no blog. pura preguiça e enrolação. agora estou aqui, atolada com as malas, tentando fazer com que tudo o que eu trouxe, mais algumas roupichas da leader + bijouterias da rua da alfândega + uns potinhos de plástico das lojas de 1,99, tudo comprado nesta minha curta estadia. claro, não estou conseguindo.
eu sou muito escrota mesmo, desculpem.
mas prometo que na próxima semana eu escrevo. juro.
Juro!!!

Amo vocês.